"Meu Amigo SOL"



Ele é realmente um amigão para seu filho.Mas, para aproveitar seus benefícios, é preciso tomar cuidado desde pequeno
Ivonete D. Lucírio
A vida só existe porque o sol está lá no céu, brilhando. Se ele não existisse, as plantas não cresceriam e não teríamos o que comer. Além disso, é graças a sua radiação que o corpo humano fixa vitaminas e minerais indispensáveis para o seu funcionamento. Mas o amigão pode também se tornar perigoso. Parte da luz solar é formada por radiação ultravioleta (UV), capaz de danificar a pele. Ela é dividida em dois tipos: UVA, que atinge camadas mais profundas da pele e, com o tempo, pode provocar câncer e o envelhecimento, e UVB, que é aquela que deixa a pele bronzeada ou, se for além da medida, causar sérias queimaduras. Proteger as crianças pequenas é fundamental. Elas se expõem ao sol três vezes mais do que os adultos porque passam mais tempo ao ar livre. É possível reduzir em 50% os riscos de uma criança desenvolver câncer de pele até os 20 anos se ela usar regularmente protetor com FPS de no mínimo 30 durante os quatro primeiros anos de vida. Que o protetor é necessário, não há o que discutir. Mas muitas vezes a forma de usá-lo deixa algumas dúvidas. Conversamos com quatro especialistas que ajudarão a esclarecer todas elas.
À partir de que idade o bebê pode tomar sol?
Depois do primeiro mês de vida, a criança já pode tomar sol, mas com muito cuidado.“O horário ideal é por volta das 8 horas da manhã, e por cerca de 20 minutos diários, deixando principalmente os bracinhos e as perninhas expostos”, indica a pediatra Gelsomina Colarusso, do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. Depois dos seis meses, a exposição pode ser um pouco maior, sempre com protetor solar e fugindo dos horários de sol mais forte, entre 9 horas e 15 horas.
Com quantos meses já é permitido o uso de protetor solar pelo bebê?
Há uma certa controvérsia sobre esse assunto. Alguns pediatras liberam o uso do produto a partir do primeiro mês, desde que sejam específicos para bebês e compostos por filtros solares físicos (à base de óxido de zinco e óxido de titânio), e não químicos.Outros só indicam o uso de protetor depois dos seis meses, quando o sistema imunológico da criança já está mais equilibrado e a chance de desenvolver alergia é menor. O melhor é conversar com seu médico e ver o que ele aconselha a fazer.
Qual o fator de proteção mais indicado para crianças?
O FPS ideal é 30. Abaixo disso, pode não fornecer proteção suficiente.“Acima disso, como há bem mais substâncias químicas em sua composição, aumenta o risco de o bebê desenvolver alguma alergia”, diz a dermatologista Denise Stella Fagundes, do laboratório Schering- Plough.Além disso, o aumento no grau de proteção acima do FPS 30 é bastante pequeno. Um protetor com FPS 30 filtra 96,7% dos raios solares, um fator 45, 97,8% e um com FPS 50, barra 98%. A diferença é de pouco mais de 1%.
Qual o melhor protetor, em creme ou em gel?
“O mais indicados são as loções cremosas e os cremes”, diz a dermatologista Denise Stella Fagundes. As formulações em gel, por conter álcool, podem provocar ardor caso haja algum arranhão na pele. Se optar por um spray, cuidado para não atingir os olhos da criança.
A criança também pode se queimar em um dia nublado?
Com certeza.A cobertura de nuvens só é capaz de barrar 20% da radiação UV.O restante atravessa tranqüilamente e pode provocar queimaduras sérias. Por isso, não dispense o protetor.
O protetor só é necessário na praia e na piscina?
Não, o produto deve ser aplicado sempre que a criança for se expor ao sol, como em um passeio ao zoológico ou uma voltinha pela praça. Nas montanhas, o protetor também é indispensável.A cada 1000 metros de altitude, os níveis de UV aumentam cerca de 8%.A neve é outro perigo. Por refletir a luz, ela aumenta em 85% a intensidade da radiação.
O protetor protege contra os dois tipos de radiação ultravioleta, o UVA e o UVB?
O FPS indica o grau de proteção com relação aos raios UVB, que causam queimadura.Um FPS 30, por exemplo, significa que, se uma pessoa pode ficar sem protetor por 5 minutos ao sol sem se queimar, com a aplicação do produto poderá ficar 30 vezes mais, ou seja, 150 minutos.Mas é preciso lembrar de reaplicar o protetor de acordo com a recomendação do fabricante. Embora alguns resistam até 6 horas, mesmo na água, é mais seguro reaplicá-lo a cada duas horas. E se você secar seu filho com uma toalha, o atrito pode retirar o produto. Nessa situação, reaplique sempre. Com relação ao UVA, deve estar escrito na embalagem que ele fornece também esse tipo de proteção, importantíssima porque é essa radiação que provoca câncer. Não existe ainda uma padronização que indique o quanto o produto protege contra o UVA.
O protetor pode dar alergia? Como ela aparece?
Pode acontecer porque o sistema imunológico da criança é mais sensível. A alergia, no geral, aparece na forma de vermelhidão, bolinhas e irritação ou coceira. Por isso, antes de usar o produto, aplique um pouquinho em uma pequena região da coxa do bebê, aguarde três horas e lave. Se no dia seguinte não aparecer reação alguma é porque não há perigo de alergias.
Qual a quantidade de protetor que deve ser aplicada?
Não existe uma medida precisa para crianças, mas seja generosa na hora de aplicar o produto, que deve cobrir toda a pele. Economize no sol não no creme.
Quanto tempo antes de ir para a praia é preciso aplicar o protetor?
Alguns fabricantes de protetores garantem que, graças a uma tecnologia especial, o produto passa a dar proteção imediatamente após ser aplicado.“Mas, para a maior parte das marcas, ainda vale a recomendação de passar o protetor e esperar meia hora – tempo que leva para se incorporar à pele – antes de ir para o sol”, diz a dermatologista Selma Helene, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Uma camiseta substitui o protetor solar?
Não.A roupa barra uma parte importante da radiação,mas não toda ela. O quanto ela protege vai depender do tipo de tecido.O jeans consegue evitar que mais de 70% da radiação chegue a pele (mas ninguém vai levar um bebê de jeans para a praia).Um algodão leve deixa passar 15% da radiação e, se estiver molhado, apenas 30%. Para saber qual o grau de proteção, olhe para o sol através do tecido. Se você puder enxergar o sol é porque seus raios estão atravessando a trama.
Se eu fechar o toldo do carrinho, meu bebê está protegido do sol?
Não.Como foi explicado, o tecido deixa passar boa parte da radiação. Além disso, o toldo cobre apenas a parte de cima do carrinho e o bebê poderá receber radiação refletida pela areia, pelas pedras da calçada. Portanto, o protetor continua a ser necessário.
Caso a criança sofra queimadura solar, o que fazer?
“Hidrate bastante com água e sucos, dê banhos ligeiramente mornos, borrife com água e coloque uma roupa bem fresquinha”, aconselha a pediatra Gelsomina Colarusso.Agora, se a queimadura foi mais séria, com o surgimento de bolhas ou caso a criança fique muito quieta,molinha, com o ritmo da respiração alterado, é hora de correr para o pronto-socorro.
Como proteger os olhos dos bebês? Eles também precisam usar óculos escuros?
No exterior,principalmente nos Estados Unidos, há várias marcas de óculos para bebês – parecidos com os de natação – à venda.Mas os oftalmologistas não vêem a necessidade do uso de óculos de sol, que pode causar mais desconforto do que benefício.“Colocar um boné e levar a criança para a sombra nos horários de sol mais forte são as atitudes mais indicadas”, garante o oftalmologista Élcio Sato,da Universidade Federal de São Paulo. Além disso, é preciso tomar cuidado com esses óculos para crianças vendidos em camelôs ou lojas não especializadas,que podem não trazer proteção nenhuma.“A cor escura não significa que a lente bloqueia os raios UV,mas faz com que a pupila se dilate, deixando os olhos mais expostos aos efeitos nocivos”, esclarece Élcio.